domingo, 26 de julho de 2009

Junções impossíveis: Uma nova forma de ver a dictomia esquerda - direita

Esta semana, ao escutar com atenção a entrevista de Francisco Louçã à RTP, ouvi mais um repto junção de toda a esquerda, até a nível nacional, contra a direita. Receia que tal cenário seja impossível ou até mesmo utópico.
Quando oiço muitos militantes do BE e Manuel Alegre e os seus apoiantes a dizer que toda a esquerda se deve juntar contra as políticas de direita faz-me lembrar aquelas pessoas que querem ser primos à força, encontrando qualquer ligação em comum, por mais disparatada e estonteante que seja.
No caso de quem faz estas afirmações há uma parentalidade a que todos recorrem: esquerda. O problema é que “esquerda” é uma palavra, ou seja, um vocábulo, que pode significar múltiplas coisas consoante os contextos. Uma palavra por si só não legítima conclusões científicas. Quantas vezes não utilizamos palavras ou expressões que quase nada significa historicamente? A estas palavras chamam-se chavões.
Isto tudo para dizer que apesar de nos referirmos a partidos, como por exemplo, PS, PCP, MRPP, PCP como “Esquerda” e a partidos como PSD, CDS-PP, PND, PNR como “Direita”, devido a diversas semelhanças ideológicas, creio que cientificamente falando é errado. É devido a isto que a tal junção de toda a esquerda é impossível, tal como se alguém defendesse uma união de toda a direita. Só podiam ser possíveis se as ideologias dessem lugar aos chamados interesses políticos, muito comuns na real politik.
As incongruências científicas são muitas. Se estivermos atentos verificamos que esta classificação está quase totalmente ultrapassada. Documentando um exemplo, quais as semelhanças entre PS (centro esquerda) e PCP (Extrema-esquerda)? Quais as semelhanças entre PSD (centro direita) e PNR (extrema direita)? Obviamente nenhumas. O que é certo é que ao verificar as linhas ideológicas de PS e PSD estas são muito mais próximas uma da outra do cada um dos seus extremos. E mais curioso ainda: PCP e PNR ideologicamente estão muito mais próximos um do outro do que do dos seus partidos à esquerda ou à direita mais moderados. Vejamos: tanto o PCP como o PNR são partidos radicais, anti capitalistas, anti americanos e ambos defendem o serviço militar obrigatório, o que o distingue é o carácter mais liberal de um e mais conservador de outro em termos de costumes. Na realidade os extremos tocam-se.
E entre o BE e o PS haverá junção possível? Concluo que não, o BE continua a ter uma grande componente anti capitalista, defendem grande liberalização dos costumes, que para o eleitorado do PS não é aceitável e tem uma grande dose de anti americanismo e de contra poder. As parecenças entre PS e PSD continuam a ser maiores. Até o próprio BE, por vezes, continua a ter dificuldade para juntar as suas diversas facções (anarquistas, marxistas-leninistas, trotskistas, maoístas e sócias democratas originais).
Creio que esta dictomia “Esquerda - direita” está cada vez mais ultrapassada, impondo-se, como alguns autores defendem, uma nova concepção global das ideologias, mas que não seja dual. A única semelhança entre as pessoas que se dizem de esquerda ou direita, hoje em dia, e dado o panorama dos partidos políticos, creio que será a nível antropológico, pois a esquerda defendem que o ser humano é um “bom selvagem”, e a direita diz que o homem não é bom por natureza, é uma animal, embora racional, mas que tem defeitos (mesmo assim com algumas dúvidas, dado as políticas incoerentes com esta ideia que alguns partidos de esquerda ou de direita prosseguem). Mas esta diferença é tratada mais a nível académico, não sendo conhecida da generalidade das pessoas.
Para concluir, podemos ainda referir de que a união de toda a esquerda ou de toda a direita é utópica está demonstrada a nível histórico. Quem não se lembra da aliança entre o PS e PSD pós 25 de Abril contra o avanço do comunismo em Portugal, ou então da aliança feita entre os NAZIS e a URSS antes da II Guerra Mundial? Esta dictomia realmente nunca foi feliz e é completamente anacrónica. Creio que deveríamos inaugurar uma nova concepção global de ideologias, até para englobarmos certos partidos que não se definem como sendo de esquerda ou de direita, mas desta feita quadripartida: Liberais, Conservadores e Socialistas e anarquistas.
Obviamente isto é uma sugestão, estando ciente que esta classificação não está isenta de dificuldades, quando confrontado com ideologias como o Nacionalismo ou autoritarismo de diversas formas, estando aberto a novas ideias de classificações.

1 comentário:

Ricardo Meca disse...

E que tal só entre conservadores e liberais?